Minha avó não precisou de manual para ter filhos. Teve a primeira aos 20 anos e quatro partos seguintes em casa. Ninguém disse que ela não poderia ter seus filhos naturalmente e assim ela não teve motivos para sentir-se incapaz. Daí amamentou, já que ninguém disse que ela não conseguiria também. Não haviam revistas, manuais, passo a passo, tutoriais de maternidade. Não haviam blogs, redes de apoio virtual, pediatras suportados por grandes corporações ou fórmulas elaboradas para deixar bebês superinteligentes. Para ser mãe na época da minha avó, bastava ter um filho e criá-lo.
Alguma coisa aconteceu com a geração da minha mãe que descobriu a maternidade nos anos 70. De lá para cá os manuais, bulas, revistas e médicos patrocinados foram ganhando espaço e as mulheres deixaram de acreditar que é possível. Possível parir naturalmente, como as mulheres fizeram deste o seu surgimento na Terra. Possível amamentar criar e lidar com problemas da maternidade. Ajuda das mães, avós e mulheres mais velhas sempre tivemos mas esta ajuda foi trocada pela consulta aos 'especialistas'. Não somos mais as donas do nosso destino, precisamos de um curso para gestantes e o engraçado é que saímos do curso achando que dominamos todo o parangolé.
Ledo engano. Ter filhos é uma experiência pessoal, intransferível. Não deveríamos deixar médicos dizerem que não podemos esperar a hora do parto por conta de sua agenda, não deveríamos achar que somos incapazes, não deveríamos nos fiar no que dizem as empresas travestidas de revistas especializadas. Conversar com quem já passou pela mesma situação ajuda. Mas a situação em si deve ser vivida por nós e mais ninguém. E este texto não está defendendo a gestação e maternidade sem assistência médica. Médicos são necessários quando se corre risco, quando se está doente. Mas, será que contar com ajuda do pediatra para nos dizer como lidar com nossos filhos não é demais? A verdade é que passada a época da minha avó, a maternidade virou um negócio muito rentável e quem lucra tanto não tem intenção de largar o osso. Nossa saída agora é a informação para alcançar o que minha avó teve desde sempre. A capacidade de gerar, alimentar e educar seus filhos de acordo com sua consciência e só. Sem manuais.
Imagem- ( Elin Danielson-Gambogi - Maternidade - óleo sobre tela )