sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A maternidade não precisa de tutoriais



Minha avó não precisou de manual para ter filhos. Teve a primeira aos 20 anos e quatro partos seguintes em casa. Ninguém disse que ela não poderia ter seus filhos naturalmente e assim ela não teve motivos para sentir-se incapaz. Daí amamentou, já que ninguém disse que ela não conseguiria também. Não haviam revistas, manuais, passo a passo, tutoriais de maternidade. Não haviam blogs, redes de apoio virtual, pediatras suportados por grandes corporações ou fórmulas elaboradas para deixar bebês superinteligentes.  Para ser mãe na época da minha avó, bastava ter um filho e criá-lo. 

Alguma coisa aconteceu com a geração da minha mãe que descobriu a maternidade nos anos 70. De lá para cá os manuais, bulas, revistas e médicos patrocinados foram ganhando espaço e as mulheres deixaram de acreditar que é possível. Possível parir naturalmente, como as mulheres fizeram deste o seu surgimento na Terra. Possível amamentar criar e lidar com problemas da maternidade. Ajuda das mães, avós e mulheres mais velhas sempre tivemos mas esta ajuda foi trocada pela consulta aos 'especialistas'. Não somos mais as donas do nosso destino, precisamos de um curso para gestantes e o engraçado é que saímos do curso achando que dominamos todo o parangolé. 

Ledo engano. Ter filhos é uma experiência pessoal, intransferível. Não deveríamos deixar médicos dizerem que não podemos esperar a hora do parto por conta de sua agenda, não deveríamos achar que somos incapazes, não deveríamos nos fiar no que dizem as empresas travestidas de revistas especializadas. Conversar com quem já passou pela mesma situação ajuda. Mas a situação em si deve ser vivida por nós e mais ninguém. E este texto não está defendendo a gestação e maternidade sem assistência médica. Médicos são necessários quando se corre risco, quando se está doente. Mas, será que contar com ajuda do pediatra para nos dizer como lidar com nossos filhos não é demais? A verdade é que passada a época da minha avó, a maternidade virou um negócio muito rentável e quem lucra tanto não tem intenção de largar o osso. Nossa saída agora é a informação para alcançar o que minha avó teve desde sempre. A capacidade de gerar, alimentar e educar seus filhos de acordo com sua consciência e só. Sem manuais. 

Imagem- ( Elin Danielson-Gambogi - Maternidade - óleo sobre tela )

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A era dos aquários



"Mãe , não olhe agora mas tem uma menina pequenininha na outra mesa com um tablet do tamanho de uma televisão" 

"Onde?"

"Ali, atrás da mesa onde dois bebês estão brincando nos celulares dos pais"

Meu filho tem agora sete anos. Ele é uma criança de sua geração. Sim, isto significa que ele domina perfeitamente, gadgets os mais variados. Meu filho tem agora sete anos. Ele é uma criança. Sim, isto significa que ele corre, brinca e pula sem parar. 

Quando saímos para locais públicos não levamos eletrônicos. Não há proibição, apenas o consenso de que os aparelhos tem custo alto, podem ser perdidos ou quebrar com facilidade e simplesmente não vale a pena. Quando saímos a ideia é passar um tempo juntos vendo coisas diferentes. Deixamos os jogos para quando não há nada melhor a fazer. Em nossas saídas onde possa ter algum tempo de espera,  suas distrações são livros, gibis e conversas com as pessoas que o acompanham. Ele adora conversar e trocar ideias. Como dito no início do texto, ele adora a tecnologia atual. Acaba de ganhar um ipad da avó - o ipad é usado, a avó não se adaptou. A avó é uma criança de outra geração - e está muito satisfeito em poder jogar seus joguinhos. Meu ponto de argumentação aqui é que a criança de hoje gosta e compreende aparelhos eletrônicos ultramodernos tanto quanto eu fazia com minha pequena vitrola no passado. Eu gostava muito de ouvir meus disquinhos e ganhei minha vitrola para não acabar com a agulha da vitrolona do papai. Por outro lado, a vitrola era somente um meio quando o fim era ouvir as histórias em disco vinil compacto. 

No caso dos tablets e smartphones, eles também são apenas um meio.  Para os pequenos o fim é utilizar os jogos, brincar. Defensores ferrenhos dos eletrônicos dizem que são educativos e que até o presidente Barack Obama tem incentivado crianças a usá-los mais e mais, por meio do aprendizado da programação. Bem, uma coisa é uma coisa, outra coisa é diferente. Que de meros usuários caminhamos para um futuro onde todos precisarão conhecer alguma coisa de programação, isto parece bem claro. Existem coisas contudo, na educação de uma criança, que independem do uso de computadores, celulares e tablets. Filosofia é uma delas. Não é preciso mais que um cérebro humano para desenvolver e resolver um questionamento filosófico. Aliás todas as áreas da ciência e do pensamento foram desenvolvidas sem computadores até pouco mais de duas décadas. Quando o computador pessoal apple apareceu, em 1977, o mundo já existia e as pessoas já pensavam. A nova tecnologia é, pois, de meio. A maior máquina permanece dentro de nossas caixas cranianas. 


Por este motivo quando me dizem que se usar mais computadores meu filho será mais inteligente, criativo ou com capacidade de liderança, fico penso na criança que foram Leonardo Da Vinci, Santos Dumont, Albert Einstein. Imagino a Nona Sinfonia necessitando do Encore para ser composta, e Don Quixote saindo de um editor de texto. Imagino Alexandre, o grande, sendo educado por aplicativos desenvolvidos por Aristóteles. Não confunda meu pensamento com saudosismo. Estou aqui valorizando células cinzentas, a leitura, o pensamento filosófico e a compreensão da matemática como explicação de nosso mundo. Gadgets são apensas instrumentos, nossos filhos já nascem inteligentes, criativos e dotados de diversas capacidades. A paralisia causada pelos aparelhos eletrônicos nega às crianças outras experiências. A primeira delas é a experiência do olhar. Olhar, simplesmente olhar as coisas. Crianças hipnotizadas por telas numa saída com os pais não olham pela janela do carro, não olham o mundo ao redor e precisam passar no farmácia depois para comprar um colírio que lhes umidifique os olhos. São como pequenos e lindos peixes ornamentais em aquários, olhando a realidade de fora distorcida pela parede de vidro ao seu redor.  No restaurante, ficam quietinhas e todos em volta agradecem enquanto comem sossegados sem o som da infância. Sim eu sou uma criança de outra geração, eu sei o que é uma vitrola. 

Meu filho continuará usando aparelhos de seu tempo para o resto da vida. Do mesmo jeito que Cervantes usou a pena e não a parede de pedra de sua caverna. Mas sua massa encefálica, sua inspiração, seu eventual gosto para ciência e discussão sobre o mundo deverão ser os fatores a fazer a diferença entre ele e um robô. Assim espero. 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Publicidade Infantil é ilegal e covardia - #Exemplo1 : Danoninho



No dia 04 deste mês foi publicada a Resolução 163 do Conanda, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgão ligado à Secretaria Nacional de Direitos Humanos e Minorias. A Resolução considera abusiva e ilegal a prática da publicidade infantil no Brasil. A gritaria por parte de quem lucra com a publicidade dirigida às crianças é muito grande. Aliás, quem lucra deve mesmo gritar, afinal os lucros com publicidade infantil são gigantescos e com o modelo de autorregulamentação representado pelo Conar, vender para os pequenos está mais fácil do que tomar doce de criança.


Pensei em escrever detalhadamente sobre a Resolução, mas depois de participar de acompanhar alguns debates nas redes sociais, resolvi falar através de casos concretos. Um dos argumentos mais usados pelos defensores da propaganda para crianças é: " Proibir a publicidade infantil é censura!". Dos portadores deste discurso, só posso entender que estejam divididos em dois grupos: aqueles que estão ganhando dinheiro com a propaganda e aqueles que não compreendem quais os direitos estão em jogo nesta questão. Para os primeiros - os que estão enchendo o bolso com a publicidade infantil minhas únicas palavras são : você agora deveria usar sua criatividade para falar com alguém do seu tamanho, #anunciapramim. Para os demais , aqueles que não conhecem ainda as questões de direito, o caso é o seguinte:



Existe um princípio constitucional chamado Princípio da Prioridade Absoluta da Criança e do Adolescente. Este princípio está consagrado no art. 227 da Constituição Federal, que diz:


“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."

O que isto quer dizer? Quer dizer toda vez que o direito das crianças e adolescentes estiver sendo confrontado com qualquer outro direito, a prioridade absoluta é das crianças e adolescentes. ( aproveite e conheça a iniciativa Prioridade Absoluta do Instituto Alana) 


Foi com base neste princípio, e outras normas legais, que a resolução 163 foi publicada e no caso da publicidade infantil os direitos que se confrontam são , o direito da criança a crescer livre do assédio da publicidade enganosa contra o direito do anunciante de encantar o público infantil para que solicite seus produtos aos pais. 




Um exemplo deste confronto de direitos são as campanhas publicitárias do Danoninho. A empresa Danone promove sempre com bastante criatividade, campanhas nas quais as crianças são convidadas a participar colecionando produtos, como os MiniDinos e a nova Mini Cidade do Dino. Com essas campanhas ( fofas) a propaganda conversa com a crianças usando música infantil, atores mirins e brindes, aplicativos para celular,  tudo para vender um produto que não é iogurte e não pode ser consumido por crianças menores de 2 anos ( apesar das campanhas fofas não falarem sobre isso) . Quanto mais as crianças colecionarem e comerem, melhor. Para a empresa, é claro.

Para os defensores da publicidade infantil suprimir as campanhas publicitárias do Danoninho como estão no ar seria censura pois, os publicitários o direito de se exprimir livremente e , principalmente, os anunciantes tem o direito de falar com as crianças. 

Certo, mas é justo o Danoninho ser anunciado assim?  

De acordo com o rótulo, eis os ingredientes do produto: 


LEITE DESNATADO, XAROPE DE AÇÚCAR, PREPARADO DE MORANGO (ÁGUA, FRUTOSE, POLPA DE MORANGO, CÁLCIO, FÓSFORO, AÇÚCAR, AMIDO MODIFICADO, ZINCO, FERRO, VITAMINAS D E E, ESTABILIZANTES GOMA XANTANA, GOMA CARRAGENA E CARBOXIMETILCELULOSE, ACIDULANTES ÁCIDO TARTÁRICO E ÁCIDO CÍTRICO, AROMATIZANTE, CONSERVADOR SORBATO DE POTÁSSIO E CORANTE NATURAL CARMIM), CREME DE LEITE, CÁLCIO, CLORETO DE CÁLCIO, FERMENTO LÁCTEO, QUIMOSINA E ESTABILIZANTES GOMA GUAR, CARBOXIMETILCELULOSE, GOMA CARRAGENA E GOMA XANTANA. CONTÉM GLÚTEN. PODE CONTER TRAÇOS DE CASTANHA DE CAJU.


Segundo a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - PROTESTE, que testou o Danoninho , a conclusão é a seguinte:


"Açúcar demais, proteína de menos
Conforme apuramos em nosso teste, os petit suisse apresentam açúcar em excesso, o que é prejudicial à saúde das crianças, que acabam se acostumando ao paladar doce desde cedo. Se uma criança de 7 a 10 anos consumir um potinho, estará ingerindo 27% do limite diário máximo de açúcar de absorção rápida. Se tiver de 4 a 6 anos, 32%. Valor muito acima do ideal recomendado – no máximo, 10%."

Já o site Fechando o Ziper que também testou o produto e concede notas para os alimentos entre A e F  deu nota D- Para o Danoninho e publicou:

As crianças são o público-alvo
Possui muito açúcar (xarope de açúcar, açúcar e frutose) e aditivos para um produto que é destinado ao público infantil. Crianças menores de 2 anos não devem consumir açúcar! Portanto, cuidado ao oferecer esse tipo de produto.
Muuuitos aditivos alimentares
Apresenta estabilizantes, acidulantes, aromatizante, conservante e corante.
-  Veja o post completo em: http://fechandoziper.com/laticinio/danoninho-morango/#sthash.1JTCte2k.dpuf


Em um país que atualmente apresenta altos índices de obesidade infantil, promover a venda de alimentos com alto teor de açúcar em veículos de comunicação é, antes de tudo, uma baita covardia.

Fonte: Documentário Muito Além do Peso

Depois de dispor das informações acima creio ser difícil qualquer adulto ( que não lucre com isso) defender a publicidade infantil de produtos alimentícios como Danoninho. Mas, é claro que tudo é possível.

Aproveito e deixo uma receita de Danoninho de Nadia Cozzi do blog Coletivo Verde, para substituir ao industrializado cheio de açúcar, amido, corante e publicidade infantil. ( Link completo aqui

Queijinho Petit Suisse
  • 500g de morangos Orgânicos limpos cortados ao meio
  • 8 colheres (sopa) de açúcar Orgânico
  • 1 colher (sobremesa) de suco de limão orgânico
  • 1 e meia xícara (chá) de leite fresco bem gelado
  • a medida de 1 lata de creme de leite fresco bem gelado
  • 200g de ricota, de preferência feita em casa. Também é divertido ver o leite virar queijinho. Veja a receita nos outros posts.
Modo de fazer:
Numa panela coloque os morangos, o açúcar, o suco de limão e ferva mexendo sempre por cinco minutos. Retire do fogo e coloque no liquidificador com o leite e o creme de leite, ambos bem gelados. Vá acrescentando a ricota aos poucos, batendo até formar uma pasta lisa um pouco mais mole que o Danoninho original (ao ir para a geladeira, seu Danoninho genérico ficará com a mesma consistência do original). Deixe uns moranguinhos para enfeitar.













terça-feira, 1 de abril de 2014

O mágico de OZ - clássicos para crianças



No que diz respeito a livros, tenho convicção de que devemos apresentar primeiro a fruta, depois o doce. Com a experiência de ler o clássico O mágico de Oz de L. Frank Braum, texto original com edição da Zahar,  veja aqui um trecho, para meu filho antes dele assistir ao filme de Judy Garland ou qualquer outra adaptação, acredito ter feito um bom trabalho. Por que? As adaptações , por mais palatáveis e fofas que sejam , sempre suprimem partes importantes - e acrescentam outras nem tanto - às obras literárias acabando por mudar o espírito do livro. Depois que o original for conhecido e vivenciado, aí sim, tudo é possível e podemos nos lançar às modificações.



Ouvindo todas as noites, antes de dormir, a história da menina que matou uma bruxa com uma casa levantada por um ciclone, matou outra com um balde de água e junto com outros amigos procurou durante todo o tempo, com muitas aventuras, por coisas que já possuíam, fez meu filho compreender a moral da história sem complicações e tirar outras conclusões não tão óbvias e pessoais. Conhecer o livro como ele é, aproximar-se dele antes de dar de cara com adaptações é enriquecedor. Só assim ele pode estranhar tantos personagens no início do filme de Victor Fleming - afinal a fazenda do Kansas era tão paradona com apenas tia Em, tio Henry e Totó. Ah, mas todos os personagens servem apenas para justificar o final. Tudo não passou de um sonho. "Ah, assim não tem graça mamãe, o que aconteceu em OZ era verdade!" Sim, era verdade para o livro e ficção para o cinema. Criança vai escolher sempre a verdade não é mesmo? ;-)

Mas, é claro, a linguagem cinematográfica sempre encanta e tem recursos que o livro não tem. Por isso o filme, e a canção Over the Rainbow de Harold Harlen que completam 75 anos em 2014 inesquecíveis. Vale a pena mostrar às crianças.





Como ler para as crianças? Recomendo ler os clássicos com entonação de aventura e interpretação de todos os sobressaltos da trama. Os pequenos adoram e os futuros leitores que eles serão agradecem .Depois do último capítulo de Oz, ouvi do meu filho: " E agora, onde vamos achar um livro tão bom como este, mamãe? Abrimos Alice no país das maravilhas para ver se surte o mesmo efeito.


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